Dom Orani Tempesta reflete sobre o mês da Bíblia
RIO DE JANEIRO, segunda-feira, 10 de setembro de 2012 (ZENIT.org) - Desde 1971, o mês de setembro na Igreja do Brasil é o quando se enfatiza e se busca aprofundar ainda mais nossa relação com a Palavra de Deus, a Bíblia. Porém, não significa dizer que a Bíblia deva ser lida ou aprofundada apenas nesse período. Ela é um livro de cabeceira, deve estar presente em todos os momentos de nosso dia, orientando-nos, formando-nos, transformando-nos. Ela é luz para o nosso caminhar. Este mês, portanto, é um esforço comum de nossas paróquias e dioceses de aprofundarem juntos algum tema ou livro da Palavra de Deus, útil para nosso crescimento comunitário e pessoal, em vista da comunidade cristã que queremos ser.
A palavra Bíblia é que dá origem à palavra biblioteca, e expressa a realidade de ser o texto sagrado um "conjunto de livros". Ler a Palavra de Deus é uma expressão coerente de nosso caminho, que busca encontrar e fincar raízes na fé e na construção ativa do Reino de Deus. Somos convocados a uma experiência maior e mais profunda com Cristo, Palavra eterna do Pai, na comunidade, na família, na sociedade.
Por que o mês de setembro foi o mês escolhido para o aprofundamento da Palavra de Deus? Devido à celebração do dia de São Jerônimo, no dia 30. Ele viveu por volta do ano de 340 e foi a ele confiada, pelo Papa Damaso, a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa tradução da Palavra para o latim ficou conhecida como a bíblia "Vulgata", que significa "popular". Essa tradução foi tão rica e significativa que é usada até hoje em muitas traduções da Bíblia.
Uma das frases mais célebres de São Jerônimo foi: "Desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo". Uma frase fundamental para nós cristãos que buscamos conhecer, contemplar e seguir a Palavra de Deus contida nas linhas sagradas dos textos bíblicos. Ninguém ama aquilo que não conhece. Portanto, seria impensável imaginar alguém que se diga cristão, mas não busque conhecer e aprofundar a Palavra de Deus. Como chegar ao conhecimento da Revelação e de sua plenitudeem Jesus Cristose desconhecemos sua Palavra e ensinamentos, ordens e ações?
Muitas são as possibilidades oferecidas pela Igreja para aprofundarmos nosso conhecimento da Palavra de Deus. Eles vão desde os estudos filosófico-teológicos, que buscam investigar o máximo possível toda a riqueza e significados que o texto nos pode proporcionar, seja pela Exegese, pela Hermenêutica, ou ainda pelas outras disciplinas bíblicas oferecidas nos institutos filosófico-teológicos, até os círculos populares bíblicos, grupo de estudo da Palavra, catequese e a leitura orante da Bíblia (lectio divina).
A Bíblia está dividida em duas partes como todos sabem: Antigo e Novo testamento. Ela é composta de 73 livros, sendo 46 livros do Primeiro Testamento e 27 do Segundo Testamento. A leitura constante e assídua da Palavra de Deus vai ajudando aos poucos as pessoas a descobrirem toda a riqueza que ela contém, bem como o bem que ela pode realizar na vida de cada fiel.
A Bíblia trata da nossa salvação. Por isso, dentro dela encontramos muitos assuntos pertinentes e desejados pelo homem na busca constante da verdade, a relação terna e direta com Deus, o rompimento dessa amizade com Deus pelo pecado, a Aliança de Deus com seu povo, a história dos patriarcas e profetas, a encarnação do Verbo Divino, Jesus Cristo, plenitude da história da salvação, a vinda do Espírito Santo em Pentecostes, e se estende até a parusia, no final dos tempos, quando, enfim, todo poder lhe será submetido e então, assentado em trono, Rei Vitorioso, virá uma segunda vez e instaurará definitivamente seu Reino de paz e amor, bondade e justiça, mansidão e misericórdia.
O centro de toda a Escritura se dáem Jesus Cristo, a máxima expressão da revelação e da bondade de Deus, que a todos quer que cheguem ao conhecimento da Verdade, que é Cristo.
Em Jesus se cumprem todas as promessas feitas pelo Pai no Antigo ou Primeiro Testamento aos profetas e a todo o Israel de Deus. Jesus é a plena revelação da vontade do Pai para a salvação dos homens e a construção do Reino. Tudo que Ele faz diz de quem Ele é. Tudo que Ele é, é manifestado nas obras que realiza. Lendo as escrituras encontramos um caminho sólido e seguro no conhecimento da vontade de Deus. Cristo é a Palavra viva de Deus, e todas as palavras do texto sagrado, portanto, têm sentido pleno e definitivo Nele.
Neste ano, o mês da Bíblia quer aprofundar ainda mais o texto do Evangelho de Marcos. O tema sugerido é Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Marcos, e o Lema: "Coragem, Levanta-te, Ele te chama!" (Mc 10,49). Nos próximos anos serão estudados os outros três evangelistas. O enfoque será no seguimento de Jesus, proposto nos quatro evangelhos. Este tema reunirá tanto a proposta de Aparecida, que enfatiza o discípulo missionário e a missão continental, como a proposta do Santo Padre, o Papa Bento XVI, sobre a nova evangelização que é o tema do Sínodo dos Bispos no próximo mês.
Que seja esta uma oportunidade para conhecermos melhor a Palavra de Deus, a pessoa de Jesus e a proposta de seu Reino, para construirmos juntos, a partir Dele, novos céus e nova terra, onde todos possamos viver como irmãos na Unidade da Trindade e na diversidade de carismas e ministérios, em torno de um único e verdadeiro Senhor: Jesus Cristo.
Que a Palavra de Cristo continue a iluminar todas as nossas realidades humanas e nos encaminhe para a eternidade feliz, e que Maria, mãe do Verbo encarnado, nos ajude a conceber todos os dias a Palavra de seu Filho que é criadora, nos leva à salvação e à plena realização humana, que é a felicidade, o bem e a verdade contidos na pessoa de Cristo.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: ZENIT. org
SAV - Equipe
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