quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Evitemos lamentações teatrais, rezemos por aqueles que realmente sofrem



Durante sua homilia em Santa Marta, o Papa Francisco citou a oração de Jó como um ato de "verdade diante de Deus"

Por Luca Marcolivio
ROMA, 30 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - Mais de uma vez, no decurso da homilia matutina, o Papa Francisco usou o termo "deusa lamentação", para advertir sobre a atitude de muitos cristãos pouco dispostos a dar graças ao Senhor e que tendem a ver o ‘copo meio vazio’ da própria vida.
Durante a missa em Santa Marta, o Papa falou das "lamentações teatrais", fazendo alusão aos que não estão cientes do que realmente sofrem.
Um bom exemplo é o sofrimento de Jó, protagonista da primeira leitura de hoje (Gb 3,1-3.11-17.20-23), um homem que "foi posto à prova, perdeu toda a sua família, perdeu todos os seus bens, perdeu sua saúde e seu corpo inteiro tornou-se uma chaga, uma chaga nojenta". Por isso, Jó chega a  amaldiçoar a própria vida.
Semelhante é o caso de Jeremias, que usa palavras muito parecidas: "Maldito o dia em que nasci!" (Jr 20,14-18). Surge espontaneamente a dúvida se tal declaração é uma "blasfêmia", disse o Santo Padre.  E quando Jesus crucificado diz: "Pai, por que me abandonaste?". Na verdade, explicou o Papa, é uma "oração", assim como a de Jó.  
"Muitas vezes - disse o Papa - eu ouço pessoas que estão passando por situações difíceis, dolorosas, em que perderam tudo, se sentem sós e abandonadas... vêm reclamar e me perguntam: por que? E se rebelam contra Deus. Eu então lhes digo: “Continue a rezar assim, porque isto é uma oração. Quando Jesus disse a seu Pai ‘Por que me abandonou?’ ele estava rezando!”
Portanto, a oração de Jó significa “se tornar verdade diante de Deus” e ele "não podia rezar de outro modo". “Reza-se com a verdade – prosseguiu- a verdadeira oração vem do coração, do momento que vivemos; é a oração dos momentos da escuridão, quando não vemos esperanças, não vemos o horizonte”.
Hoje em dia, observou o Papa, muita gente está "na situação de Jó" e "não entende o que lhe acontece". Há muitos "irmãos e irmãs que não têm esperança", como, por exemplo, os cristãos que por serem cristãos “são expulsos de suas casas e ficam sem nada”, disse o Papa recordando o drama do Oriente Médio.
Eles podem pensar: “Senhor, eu acreditei em você. Por que? Crer foi uma maldição, Senhor?”.
O pensamento do Papa passou também pelos "anciãos deixados de lado", pelos "doentes", pelas “pessoas solitárias, nos hospitais". Pessoas por quem a “Igreja reza” e “assume esta dor".
No entanto, muitos que não sofrem de "doenças", "fome" ou "necessidades importantes", quando sentem um pouco "de escuridão na alma", acreditam ser “mártires" e param de rezar.
Há aqueles que dizem: "Estou com raiva de Deus, eu não vou à missa!". E fá-lo "por qualquer coisinha”. Santa Teresinha do Menino Jesus, nos últimos meses de sua vida "tentava pensar no céu, sentia dentro de si, como se uma voz lhe dissesse: Não seja boba, não invente coisas; sabe o que te espera? Nada!".
Diante desta terrível tentação, Teresa "rezava e pedia força para seguir em frente, na escuridão. Isso se chama “entrar na paciência ", explicou o Pontífice.
"Nossa vida é muito fácil - continuou ele - nossas lamentações são lamentações teatrais. Diante das lamentações de tanta gente, de irmãos e irmãs que estão na escuridão, que quase perderam a memória, a esperança - que vivem aquele 'exílio de si mesmo', estão exilados também de si próprios – nada!”.
E Jesus percorreu a mesma estrada: a noite no Monte das Oliveiras até a última palavra na Cruz: 'Pai, porque me abandonaste?'".
Na conclusão de sua homilia, o Papa Francisco recomendou duas coisas. Primeiro, preparar o coração para quando vier a escuridão"; e "rezar, como reza a Igreja, com a Igreja, por tantos irmãos e irmãs que sofrem o exílio de si próprios, na escuridão e no sofrimento, sem uma esperança palpável", por todos estes 'Jesus sofredores', que existem no mundo. 

Fonte: Zenit.org

SAV - Equipe

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